domingo, 8 de março de 2015

Livros Entre Linhas: Fale!



Nome do Mundo: Fale! or Speak!
Único em Seu Universo.
Dimensão: 247 páginas. 
Criadora: Laurie Halse Anderson
Data de Nascimento: 
US: 1999 / BRA: 2013
Trouxe aos Terráqueos Brasileiros: Valentina 
Onde Obter: Saraiva - Submarino - Livraria Cultura -  Americanas 
Relatório Completo: Skoob
Sinopse: Fale! - “Fale sobre você... Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra - insultos e deboches, sim - ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir. Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?

Só para constar que acabei de terminar esse livro e seria ironia demais até para mim não obedecer ao próprio título e guardar silêncio sobre, não acham? Bem, eu acho que não conseguiria dormir em paz sabendo eu que não falei. POIS BEM, ESTOU AQUI FALANDO E.E


É o meu primeiro dia no ensino médio. Estou com sete cadernos novos, uma saia ridícula e dor de barriga”.

Esse é AQUELE livro que você quer fazer com que todos os alunos à partir do fundamental II leiam, ao invés dos lugar dos "clássicos nacionais" que só vão fazê-los odiarem os livros até crescerem e terem filhos e seus filhos passarem pela mesma coisa. Não é atoa que a média de livros lidos por brasileiros seja de quatro.

- Bem vindos à única aula que vai ensiná-la a sobreviver – diz o professor – Bem vindos à Arte!”.

MAS ENFIM, vamos direto ao ponto, Fale! trata de um dos temas mais tabus do mundo: abuso sexual feito e sofrido por adolescentes. E o que deveria te assustar é o fato de A MAIORIA das pessoas que passam por isso são adolescentes (assim como em outros tipos de abusos), e as pessoas continuam a olhar como uma minoria e uma anomalia.


- Por que não passar esse tempo lidando com arte: pintado. Esculpindo, trabalhando com carvão, pastel e tinta a óleo? As palavras e os números são mais importantes que as imagens? Quem foi que disse isso? Por acaso a álgebra os comove a ponto de fazê-los chorar? [...] O pronome possessivo plural expressa o que sentem no fundo do coração? Se não aprenderem artes agora, nunca aprenderão a respirar!!!

No livro, conhecemos Melinda, uma menina que deveria estar rodeada pela sensação de entrar no Ensino Médio, mas, ao invés disso, vive tentando abafar a lembrança da festa do verão antes das aulas. Onde deixou de ser a garota que era. Onde isso lhe foi retirado brutalmente. Sem saber o que fazer, Melinda liga para polícia, que chega ao local e acaba com a festa, fazendo com que todos os convidados a odeie desde então. Porém, Melinda não contou para ninguém o que aconteceu e agora sente que sua voz desapareceu. Apenas observa, calada, seu mundo tornando-se caótico. Na sua escola, os estudantes segregam-se em grupos fechados. O casamento de seus pais está ruindo. Tem de ouvir sermões de professores por não fazer as lições e tirar notas baixas. Suas ex-amigas passaram a ignorá-la. Ninguém entende o por quê de Melinda não falar, e ela já não tem mais coragem nem de olhar as pessoas nos olhos. 
E Melinda prossegue em silêncio.


Dever de casa nem pensar. A minha cama está me mandando fortes vibrações de soneca. Não consigo evitar. Os travesseiros fofos e o edredom quentinho são mais fortes que eu. Não tenho escolha, a não ser me meter debaixo das cobertas”.

A narrativa em primeira pessoa de Lauren é sua marca registrada. Ela consegue nos transportar de maneira completa para a mente conturbada da protagonista de maneira tão intensa como fez em Garotas de Vidro. Você se torna Melinda. Você sente sua garganta entalada toda vez que ela tenta falar. Você sente a pressão dos olhares de todos sobre ela. Você sente a angústia do fardo que ela carrega e chega a ser sufocante em algumas horas. Você quer virar amigo de Melinda e deixá-la contar tudo a você! E você quer incorporar esse sentimento de raiva em forma de bastão para acertar todas aqueles que nem se dispõem a olhá-la duas vezes. E então vem a pergunta de um milhão: "E se isso estiver acontecendo com alguém próximo de mim, e igual a todos ao redor de Melinda, eu não faça a menor ideia?


[...] na maior parte do tempo, assisto os filmes de terror que passam no interior das minhas pálpebras”.

Lauren trabalhou muito bem com o clima "típica escola americana". Me fez olhar para os refeitórios, as cheerleaders, os mascotes e times, as aulas e armários, a segregação escancarada, etc,  de uma maneira que eu não enxergasse clichês, mas sim, como uma prisão estudantil, um ambiente hostil mal-pintado de escola. E que jovem nunca viu dessa forma? E como essa sensação deve ser intensificada para quem esconde segredos do tamanho dos de Melinda. Segredos sobre coisas que desmancharam quem você era e pretendia ser.



Às vezes eu acho que o ensino médio é um trote prolongado: se você for forte o bastante para sobreviver a esse período, vão deixar que se torne adulta. Tomara que valha a pena”.

No meu ponto de vista, os personagens secundários foram feitos para ser parte do cenário de prisão de Melinda. Eu consegui enquadrar a personalidade de várias pessoas reais nas atitudes em conjunto dos personagens e creio que esse tenha sido seu papel. De nos deixar ver, através dos olhos de Melinda, de como a atitude das pessoas pode ser idiota. De como falta discussões sobre esse tema na sociedade em que vivemos, sobre abusos no geral. Pois só quando se é vítima você sente em primeira mão a escassez de dialogar assuntos como esse.


- A arte sem emoção é como um bolo de chocolate sem açúcar. Deixa a gente nauseado. [...] Da próxima vez que for trabalhar com as suas árvores, não pense nelas. Pense em amor ou ódio, ou em alegria, ou em raiva; o que quer que a faça sentir algo, que leve as palmas de suas mãos a suarem ou os dedos de seus pés a se crisparem. Concentre-se nesse sentimento. Quando as pessoas não se expressam, vão morrendo aos poucos. Você ficaria chocada se soubesse quantos adultos estão realmente mortos por dentro, vivendo sem ter ideia de quem são, só esperando que um câncer, um infarto ou um caminhão surja e acabe com eles. É a coisa mais triste que conheço”.


Fale! é um daqueles livros que me deram felicidade em saber que foram escritos, mas também uma tristeza enorme por serem tão pouco divulgados e comentados. Nas últimas páginas do livro, há vários tópicos para discussão em sala de aula (E POR QUE ESSE LIVRO NÃO ESTÁ SENDO DISCUTIDO NAS ESCOLAS?), além de uma entrevista no mínimo incrível da Lauren, onde uma resposta em particular abala meu psicológico até hoje. (E sim, vocês terão de ler o livro para saber do que estou falando, MUARARA).





Uma coma cairia bem. Ou uma amnésia. Qualquer coisa, só para me livrar disso, desses pensamentos, desses sussurros na minha mente”.

Esse Livro Entre Linhas foi além de uma recomendação de um livro incrível (o que é basicamente o papel das resenhas, certo povo?), foi um pedido de socorro de diversas vítimas de abuso contidas apenas no título. Leia esse livro e fale sobre ele, porque o mundo precisa e não sei como encerrar esse post a não ser FALANDO EM CAPS E TE MANDANDO COMPRAR ESSA BUDEGA. THE END.

Árvores? Mas por que diabos a nota está em árvores? *Risadinha do mal aqui* Eu particularmente acho que certos livros não precisam ser classificados, pois a mensagem que passam superam a quantidade de estrelas que lhe possa ser atribuída. Mas achei interessante a simbologia das árvores que o livro nos apresenta e creio que Melinda aprovaria.


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