quarta-feira, 24 de junho de 2015

Livros Entre Linhas: A Terra Inteira e o Céu Infinito


Nome do Mundo: A Terra Inteira e o Céu Infinito or A Tale For The Time Being.
Único em Seu Universo.
Dimensão: 462 páginas. 
Criadora: Ruth Ozeki.
Data de Nascimento: 
BRA:  2014 / US: 2013.
Trouxe aos Terráqueos Brasileiros: Casa da Palavra.
Onde Obter: Saraiva - Submarino -Americanas - Livraria Cultura - Estante Virtual
Relatório Completo: Skoob or Goodreads.
Sinopse: A Terra Inteira e O Céu Infinito - O que acontece quando um diário perdida encontra o leitor certo? Numa remota ilha do Canadá, a escritora Ruth cata mariscos com o marido na praia quando se depara com um saco plástico coberto de cracas que envolve uma lancheira da Hello Kitty. Dentro, encontra um livro de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, e se surpreende ao descobrir que o miolo, na verdade, é o diário de uma menina japonesa, Nao. A sacola misteriosa, segundo os rumores dos habitantes, é mais um dos destroços do último tsunami que devastou o Japão e foi levado pelas correntezas até a ilha. Desde então, Ruth é tragada pela história do diário de Nao, uma menina que, para escapar de uma realidade de sofrimento – de bullying dos colegas e de um pai desempregado e suicida –, resolve passar seus últimos dias lendo as cartas do bisavô, um falecido piloto camicase da Segunda Guerra Mundial, e contando sobre a vida da avó, uma monja budista de 104 anos. O que Ruth não esperava era que o diário iria levá-la a uma viagem onde ela e Nao podem finalmente se encontrar fora do tempo e do espaço.

Muito bem, mochileiros, (faria mais sentido se eu chamasse vocês de leitores, mas soa um tanto formal, não acham, leitores?). Esse é um daqueles livros que me envolveu tanto, que ainda estou tentando descobrir como me desprender, ao menos parcialmente, para contar a vocês. Não quero nem calcular minhas chances de sucesso, but here we go \O/


Acho que é importante ter objetivos claros na vida, não acha? Principalmente se não te resta muita coisa. Porque, se você não tiver objetivos claros, o seu tempo pode se esgotar e, quando o dia chegar, você vai se pegar de pé no parapeito de um prédio alto, ou sentada na cama com um frasco de comprimidos na mãe, pensando, Merda! Dei mole. Se ao menos tivesse estabelecido objetivos claros para mim!”.

MAS ANTES, mesmo que eu não lhe convença a comprá-lo, saiba que as páginas desse livro possuem um cheiro MARAVILHOSO de chá, então vale a pena tê-lo só para ficar cheirando. Afinal, já existe tanta coisa pior para se cheirar (interpretações à parte!), que eu prefiro que você, caro leitor, não consiga desgrudar a cara desse tipo de folha. (Oscar de pior melhor piada literária aqui, por favor).



Você tem um pouco de maluquice. É o preço que se paga pela imaginação fértil. Esse é o seu superpoder. O acesso ao mundo do sonho. É uma coisa boa, não ruim”.

Pois bem, a premissa do livro me conquistou de primeira, afinal temos: uma autora japonesa que contará sobre uma personagem japonesa = fator culturas diferentes, de uma forma bem feita vale ressaltar, que tanto amo; uma personagem escritora que tem passado pelo fatídico problema de bloqueio criativo = Identificação total por minha parte (choro é livre); e as vidas de duas pessoas diferentes narradas paralelamente, que uma hora se entrecruzam de alguma forma, e a graça toda mora aqui.


O passado é esquisito. Quer dizer, ele existe de verdade? A sensação é de que existe, mas onde ele está? E se existiu mesmo, mas não agora, então onde foi parar?

Vamos começar pela escritora, Ruth, e se você leu a box de informação e se não parabéns também, É O MESMO NOME DA AUTORA!, OMG. Então você já pode prever o que isso significa para história. Ruth e seu marido estão na casa dos 40 anos e moram em uma pequena ilha do Canadá. Seu marido é uma espécie de pesquisador/especialista ambiental/algo do gênero e como a biodiversidade desta ilha é bem farta, tem sempre trabalho para fazer. Já Ruth, depois de ter trabalhado em jornais e publicado romances, está empacada em um novo projeto que é contar sua história de vida


Tenho me sentido mais atraído pela literatura hoje do que antes, não tanto por alguma obra em particular, mas pela ideia da literatura em si - o esforço heroico e a nobreza do nosso desejo humano de produzir a beleza a partir das nossas mentes”.

E, em meio a assolação desse novo dilema, Ruth um dia encontrou uma lancheira da Hello Kitty enquanto andava pela praia. Seu conteúdo? (Um McLanche feliz). Um diário de uma garota japonesa de 16 anos embrulhado na capa do livro Em Busca do Tempo Perdido do Marcel Proust (e, tanto quanto eu, você provavelmente deveria ler este livro). Por quanto tempo o diário esteve no mar? Quando foi escrito? Quem é a autora e, principalmente, como ela está agora? Ruth também quis saber e foi atrás das respostas.


É estranho pensar em como o tempo pode contribuir para você se sentir mais próximo ou distante das pessoas”.

E agora, do outro lado do Planeta (mas em qual ponto do passado?), vive Nao, a peculiar garota japonesa que, no começo de seu relato pessoal, tinha 16 anos e era dona de um blog com o melhor título ever "The Future is NAO". E se você googlear isso, verá um robô. 
ENFIM, Nao morava nos E.U.A desde pequena e tinha uma vida confortável e feliz ao estilo americano. Até que seu pai foi a falência e, junto com sua mãe, tiveram de retornar ao Japão. E em meio a turbulência de sua nova vida, Nao conhece sua bisavó: uma monja budista de 104 anos que a convida a passar um tempo no templo budista.


É estranho pensar em como o tempo pode contribuir para você se sentir mais próximo ou distante das pessoas”.

Eu adorei conhecer um pouco mais sobre o universo budista e é incrível o quão pouco conhecemos sobre outros países e culturas, inclusive a nossa, me arrisco dizer. E depois de passar por loucuras terríveis, desde ter um pai suicida a até iniciar-se na prostituição, essa experiência foi a rehab que Nao precisava.
Pois bem, não sabemos ao certo quantos anos tem a Nao que escreveu sobre a Nao de 16 anos que nos é apresentada, mas hey, é isso que compõe a atmosfera  singular e incrível do livro.


As cerejeiras aqui da base já floresceram e perderam suas flores, e eu continuo esperando para ter o mesmo destino”.

AGORA, o que dizer da prosa de Ozeki? Eu adorei a maneira como que ela está sempre interagindo com o leitor, principalmente nos capítulos de Nao, de maneira direta. Seja perguntas para te fazem revirar suas lembranças próprias ou uma "receita de meditação para leigos". E é uma escrita tão reconfortante quanto o cheiro do chá que permeia suas páginas. Ela sabe tanto manter segredos de você e criar dúvidas a respeito dos porquês dos detalhes da trama, quanto descrever contextos e pessoas. Isso me fez importar com os personagens, característica essencial quando teu livro trata sobre pessoas e seus relacionamentos, (seja consigo mesmo, familiar, ou até em relação ao passado, por que não?).  E algo que me impressionou muito mesmo sobre a capacidade da autora de fazer "links temporais" foi que a cada revelação sobre determinado personagem, me fez encarar toda situação passada dele de maneira diferente, algo que muitas vezes apenas a releitura nos proporciona.


Coisas faltando a deixava perturbada. Etiquetas de preço faltando. Lembranças faltando. Pedaços da sua vida faltando”.



Minha única ressalva em relação ao livro é a tentativa da autora de adicionar um certo elemento sobrenatural que achei não combinar com a proposta do livro como um todo. Não gosto de categorizar os livros como "realidade ou fantasia", pois creio que a Literatura é muito mais bizarra e complexa que isso. Mas, até o final do livro, a autora havia deixado certas dúvidas sobre a veracidade de alguns eventos, o que é ótimo para instigar o leitor a refletir mesmo depois de virar a última página. Contudo, a maneira como ela encerrou esse tópico me fez fechar o livro e simplesmente soltar um "Ah, então é isso?". Mas nada que tirou o prazer de ter conhecido essa história e viver tudo aquilo que ela me trouxe.


Escrever tinha a ver com imortalidade. Derrotar a própria morte ou, pelo menos conseguir evitá-la”.

Tenho de dizer o livro trata de assuntos como suicídio, prostituição e bullying japonês (que é tão absurdo quanto cruel), narrados em primeira pessoa por alguém que passou/está passando por isso. Então, é um livro que contém algumas partes bem densas, e ao meu ver foram bem trabalhadas e desenvolvidas, o que demostra a habilidade da autora de lidar com temas pesados. Outro detalhe que achei interessantíssimo é a quantidade de japonês que você pode aprender lendo esse livro! Quase toda página apresenta uma nota de rodapé com as traduções, e algumas possuem diálogos inteiros! Um último detalhes curioso: as partes da Ruth são narradas em terceira pessoa e a Nao sofre de paralisia do sono (se tiver coragem, jogue no google), E EU TAMBÉM, CHOREMOS.


Pense bem. De onde é que as palavras vêm? Elas vêm dos mortos. Nós as herdamos. Tomamos emprestadas. Fazemos uso delas por um tempo a fim de trazer os mortos à vida”.




PS: Ambas as capas original e brasileira são DESLUMBRANTES.


A ficção tinha seu próprio tempo e sua própria lógica. E ai estava o seu grande poder”.


E, como nota, nada mais justo do que lancheiras da Hello Kitty! Deixo aqui meu 4. 5/5 e uma ordem para que você, mochileirinho interessado, não deixe de ler, afinal , The future is Nao.




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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Livros Entre Linhas: Garota, Traduzida


Nome do Mundo: Garota Traduzida or Girl in Translation.
Único em Seu Universo.
Dimensão: 235 páginas. 
Criadora: Jean Kwok.
Data de Nascimento: 
BRA:  2011 / US: 2010 
Trouxe aos Terráqueos Brasileiros: Suma das Letras
Onde Obter: Saraiva - Submarino -  Americanas
Relatório Completo: Skoob
Sinopse: Quando Kimberly Chang e sua mãe, emigrantes de Hong Kong, se estabelecem numa área pobre do Brooklyn, tem início uma árdua dupla jornada para a menina de 11 anos. De dia, ela luta na escola contra o seu quase total desconhecimento do inglês, superando o preconceito do professor e revelando-se uma aluna determinada em aprender. À noite, ao lado da mãe, trabalha duro numa fábrica de tecidos, desafiando a incredulidade de colegas de escola, confiantes de que "trabalho infantil não existe nos Estados Unidos". Dia após dia, Kimberly lida em silêncio com verdades dolorosas e uma vida de privações. Num apartamento imundo, frio e infestado de ratos, a menina encara um futuro incerto, cujo peso recai sobre seus ombros, em função da deterioração da saúde de sua mãe. Kimberly ainda nutre um amor secreto por um menino que trabalha na casa de máquinas da fábrica na qual trabalha. Sua imaginação, criatividade e capacidade de amar são suas únicas armas para encontrar algum conforto e perspectivas. O livro Garota, traduzida é uma história inspirada na vida da autora, que saiu muito jovem de Hong Kong para viver nos Estados Unidos, mas fala também sobre a trajetória de milhares de imigrantes, capturados entre a pressão para vencerem no Primeiro Mundo, suas obrigações para com a família e seus sonhos particulares.


Muito bem, mochileiros. Eu ando um pouco cansada de leituras convencionais e como estava em uma vibe de intercâmbios e culturas diferentes, a sinopse desse livro me cativou de tal maneira, que antes de eu perceber, já estava a espera dos Correios passar e me entregar este bebê. (Afinal, bebês vêm no Sedex, e não da cegonha).

Esse livro entrou para minha lista de favoritos da vida, e eu COM TODA A CERTEZA voltarei a relê-lo quando JO tiver indo morar na Ilha da Esmeralda ~~tossing the hair. Certo, sonhos a parte, vou apresentar-lhes Kimberly, uma chinesa que deu um novo significado à expressão "lutar com unhas e dentes".

Kimberly morava na China, tinha 11 anos, era a melhor aluna da sua escola e vivia muito bem com sua mãe, apesar da saudade que sentia do pai falecido. (Eu iria escrever "morrido", mas esta palavra me define melhor). Mas então, sua mãe um dia lhe diz que fez um acordo com uma tia que vivia na terra do tio Sam e agora estão oficialmente se mudando para New York. Kim não sabe ao certo como comemorar. Fogos de artifício ou lágrimas? Mas isso apenas seu novo lar poderá lhe dizer.


Surgiu então um comercial de sopa de letrinhas. O conceito da sopa me fascinou, como acontecia com todas as coisas que envolviam letras

E eis sua resposta: Pessoas falando uma língua que ela não conhece; Um apartamento pequeno, sujo e cercado por baratas; uma escola onde todos são detestáveis; e só para acompanhar, mesmo sendo criança, Kim devia trabalhar em uma fábrica de tecidos para ajudar a sua mãe a pagar a dívida com a irmã. E digamos que essa tia não é lá a dos sonhos de alguém. Suas notas 10 agora se transformam em um mar vermelho, simplesmente por ela NÃO conseguir ler as provas. Sua mãe trabalha mais de 12 horas por dia. As noites são frias demais para as poucas cobertas aguentarem e a comida nem sempre sacia a fome.  

Porém, apesar da lista de infelicidades que os E.U.A trouxe para Kim ser imensa, uma alegria foi conhecer Matt, um garoto também chinês e que trabalha na fábrica junto a ela. (E aqui é a parte que vocês acham que preveem o que vai acontecer


Você pode estar mais apaixonada por uma pessoa que tem em sua mente do que pela pessoa que vê todos os dias

Ao longo de toda narrativa, nós acompanhamos o desenvolvimento de Kim, tanto acadêmicamente quanto como pessoa. Sua luta para aprender inglês (identificações livre). O constante bullying vindo inclusive de professores. E o que mais foi impactante para mim: seu amor pela sua mãe e pelos estudos e como isso a fez dedicar todas as horas livres para esforçar-se ao máximo e conseguir uma melhor qualidade de vida para sua família-de-uma-só. Histórias assim são umas das que mais mexem comigo, pois é a batalha diária de uma pessoa que dia após dia procura, através do conhecimento, um futuro melhor <o choro é livre>.

Um ponto interessante sobre os bastidores do livro é que a autora também é chinesa e foi  para os E.U.A ainda criança, ou seja, o livro é um pouco auto biográfico! Fato facilmente sentido devido ao detalhismo nas ambientações  e situações descritas. É como ler algo que apenas quem viveu saberia como descrever em palavras.
Particularmente, um detalhe que mais gostei no livro foi os choques entre as culturas chinesa e a americana. Eu sou bem maníaca quando o assunto é culturas diferentes, suas peculiaridades e contrastes, e para mim foi um prato cheio e com direito de repetir!


Jamais vou querer amar alguém assim, [...] amar tanto que não sobre espaço para mim mesma, amar tanto que não consiga sobreviver se ele me deixar

AGORA, O FINAL! Sabe a expressão "novela mexicana" <A URSUPADOORA TARANTANTAN ESPERANDO POR TU AMOR, parei>? Então, foi um tanto forçado e, sinceramente, desnecessário. Mas não desqualificou o restante do livro e o encerrou com um "ponto final" um pouco particular. Curiosos? Eu espero, hehe. 
PS: Aqui segue um documentário/entrevista, aonde a autora conta um pouco mais sobre sua infância. Legendas apenas em inglês.


Nada melhor que CINCO bandeiras da China para representar o quanto eu quero que vocês leiam! Já falei que virou um favorito? Pois virou um favorito.


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