sexta-feira, 25 de julho de 2014

Livros Entre Linhas: Anarquistas, Graças a Deus


Nome do Mundo: Anarquistas, Graças a Deus.
Único em Seu Universo.
Dimensão: 271 páginas. 
Criadora: Zélia Gattai.
Data de Nascimento: 
BRA: 1979.
Trouxe aos Terráqueos Brasileiros: Record.
Onde Obter: Saraiva - Submarino - Livraria Cultura 
Relatório Completo: Skoob
Sinopse: Um dia Zélia Gattai resolveu escrever uma história de sua infância, e escreveu a história de sua infância. Lembranças de uma infância e uma adolescência ricas de acontecimentos, narrando o cotidiano das famílias dos imigrantes daquela época, em São Paulo. A vida que decorre, os pequenos incidentes, os grandes eventos, as dificuldades, a luta, os ideais, os sonhos, a indomável coragem de uma gente sofrida... Para o seu antigo fã-clube foi, a um tempo, a alegria da descoberta de como aquele universo podia se transformar em obra literária e a perda da exclusividade. Mas valeu a pena. Valeu também para a multidão de seus leitores, que a acompanha. Admiradores apaixonados incondicionais: é o que o mistério de Zélia é a capacidade de, num gesto ou numa frase, colocar a sua alma e, assim chegar direto aos corações.




Foi um doce privilégio poder ler um livro como esse. Sei que muitos possuem preconceitos quanto a livros mais antigos, principalmente devido ao medo do tipo de vocabulário  que encontrarão. Apenas digo que quem tem medo de desafios, e só joga no modo easy, não sabem que as conquistas só são saborosas quando merecidas. Mas enfim, se caso este seja seu caso, o livro apresenta uma narrativa bem leve e despretensiosa. A sua única intenção é despertar nostalgias, obtida com êxito.

- Farabitti, tutti quanti! – reforçou mamãe. – Todos esses capitalistas, exploradores dos pobres, sanguessugas do povo. Ninguém reclama, ninguém protesta e eles fazendo dos humildes gato e sapato. Aumentam os preços de tudo quando querem, sem o mínimo respeito, sem a mínima consideração. Uma atrevidos soltos nas suas ganâncias. Uns atrevidões!

Jorge Amado teve sorte de se casar com alguém espirituoso como Zélia! Este livro tem um clima de pequenas crônicas, pois cada capítulo relata um acontecimento diferente da infância da autora. Zélia Gattai nasceu em 1916, e narra suas travessuras até os 14-16 anos, quando deixariam de ser memórias de criança. Brasileira com raízes italianas herdadas da mãe, conhecemos como suas famílias, materna e paterna, foram para o Brasil. Todos movidos com um espírito Anarquista de imigração. E caso você esteja achando que "anarquismo" é sinônimo de "bagunça", I just say "You know nothing, Jon Snow!".

Se eu tivesse ido ao seu velório, poderia ter descoberto tudo. Teria olhado tanto para o semblante de Zina, teria segurado suas mãos, teria beijado seu rosto. Todas essas desesperadoras reflexões ficaram escondidas em meu pequeno coração, extravasaram certamente em sonhos”.

É muito gostoso mergulhar nas memórias da autora. Do jeito que ela descrever as cenas, as irmãs mais velhas e os pais sob o olhar de uma criança. Como morava em São Paulo, há várias descrições sobre os bairros e a vizinhança antigamente. Ambos banhados num certo ar de interior e união de cidade pequena. Dentro da sua casa, você se sente uma integrante da família depois de "vivenciar" como era a rotina de cada um, como era o convívio com cada pessoa, as brigas e os momentos de lazer, etc. Claro que o enredo é tecido pelo ponto de vista de Zélia, que era a caçula da família e nos primeiros anos de vida, tudo soa com um certo gigantismo em relação ao mundo! 

Os ladrões de antigamente era inteligentes e conscienciosos, deixavam os pobres em paz. Dormíamos tranquilos”.

O leitor também conhece os costumes da época. Sobre como o principal futuro que aguardava as mulheres era ser dona de casa e analfabeta, pois poucas tinham a oportunidade de ir para escola. Afinal, os pais não se importavam com isso na época. (Não que eu ame ir à escola, mas é triste ver o descaso dos alunos de hoje em dia por um direito que foi suado de conseguir e enfrentou inúmeros paradigmas enraizados na sociedade da época).

Por timidez ou preconceito, talvez devido às duas coisas, mamãe vivia eternamente escravizada à opinião alheia: ‘O que não vão pensar?’ era a frase que mais repetia.

Foi um prazer ter tido essa experiência e acompanhar todos os tipos de situações que a autora narra e viveu. Acho que isso foi o tornou tudo mais enfatizante: foi real! As tragédias, os personagens e os devaneios. Tudo aconteceu e jaz em algum recôndito do tempo.
Houve brigas e desentendimentos. Houve momentos de crise econômica, na qual a família de Zélia nunca deixou de ser solidária com o próximo, (que claro, na hora da necessidade chove!). Houve momentos de diversão, daqueles que você sente um tipo de felicidade possível apenas quando se passa um tempo fazendo bobagens com quem você ama e discute ao mesmo tempo.

Muito cedo eu aprendera na própria carne que nem tudo na vida é riso e que muitas coisas más existem no mundo a nos fazer sofrer, todas elas detestáveis: ciúmes, remorsos, saudades, injustiças, humilhação, ódio, raiva...

Um dos meus personagens favoritos foi o pai de Zélia. Ele fazia uma competição de música erudita com as filhas! E para mim, a parte mais hilária foi uma confusão que durou anos devido ao disco favorito da mãe quebrado por "alguém"! Era empolgante torcer pelos personagens, pois eu nunca parava de lembrar que aquelas foram lutas reais. Todos os problemas, mortes, conquistas e nascimentos pesaram mais para mim em relação aos livros de ficção. Por isso torcer pelo bem estar geral da nação era uma necessidade! Mas acho que me apeguei a todos os personagens e foi diferente ter o meu julgamento sobre eles, baseado no que Zélia contava, junto com o dela própria, como se ambos disputassem em uma espécie de balança mental.

Muito cedo eu aprendera na própria carne que nem tudo na vida é riso e que muitas coisas más existem no mundo a nos fazer sofrer, todas elas detestáveis: ciúmes, remorsos, saudades, injustiças, humilhação, ódio, raiva...”“Mamãe assistia a todo esse movimento, meio tímida e bastante humilhada: ela nunca fora dona-de-casa, coitada! Sonhadora, sensível, nascera para tarefas intelectuais.

O livro é curtinho. A escrita é fluída e aconchegante. Às vezes é um pouco lenta, afinal nem sempre os livros precisam se resumir a overdoses de adrenalina. É o tipo de livro que sugere cobertor, uma xícara de chá (ou algum líquido da sua preferência), e uma tarde para mergulhar. Eu indico para qualquer tipo de público. Crianças e adolescentes irão gostar de ver "como tudo funcionava antigamente", e se deparar com a existência discos de vinil, vitrolas, carros antigos entre outras peculiaridades. E adultos e idosos com certeza rememorarão algumas das próprias lembranças.

Romântica, mamãe não entrava na água sem declamar José de Alencar, braços estendidos para o oceano: ‘Oh! Verdes mares bravios, da minha terra natal’...

 Como nota, quatro fofos discos de vinil! Quem ler, entenderá a escolha :P
PS: estes por enquanto estão inteiros!



FIND ME:
bia_fbastos@hotmail.com
http://bf-bastos.blogspot.com.br
| | |
Goodreads
Instagram |

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © 2013 | Design e C�digo: Amanda Salinas | Tema: Viagem - Blogger | Uso pessoal