segunda-feira, 28 de julho de 2014

Livros Entre Linhas: Todo Dia



Nome do Mundo: Todo Dia or Everyday.
Único em Seu Universo.
Dimensão: 280 páginas. 
Criador: David Levithan.
Data de Nascimento: 
BRA: 2013 / US: 2012
Trouxe aos Terráqueos Brasileiros: Galera Record.
Onde Obter: Saraiva - Submarino - Livraria Cultura - AmericanasPDF
Relatório Completo: Skoob
Sinopse: Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.


Você também está cansado das costumeiras fórmulas para livros contemporâneos e Young Adult? Bem vindo ao meu clube. Já virou uma questão de subestimação o modo como a maioria desses livros se desenrolam. “Se não gosta, então não leia, oras”. Sim, eu concordo. Mas o problema é que eu ainda encontro livros inovadores dessa categoria e que valem a pena. Do tipo que não recorre ao mesmo método e usa frases como “Os incomodados que se mudem”, em defesa à falta de criatividade. Desculpe, mas eu não gosto de ser acomodada. Livros foram feitos para incomodar, principalmente nos pontos fracos. E Todo Dia foi surpreendentemente esse tipo de livro.



“Depois de um tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe. Não há meio de saber o porquê. Você pode ter algumas teorias, mas nunca haverá uma prova”.


O livro é narrado por “A”, (sim, isso é um nome e ainda demorou para descobrirmos!), uma pessoa que não é exatamente uma “pessoa” no sentido físico, no qual estamos habituados a pensar. “A” é apenas uma consciência, como se fosse formado apenas pela sua capacidade cerebral de raciocinar e de alguma forma, existir. Mas não é dono de nenhum cérebro ou corpo. E foi assim desde que ele nasceu. (Está parecendo papo de quem comer flor-de-lótus :v)


“Aprendi a observar, muito melhor do que a maioria das pessoas faz. O passado não me ofusca, nem o futuro de motiva. Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver”.

Todo dia, “A” acorda no corpo de uma pessoa diferente, sem nunca voltar ao mesmo hospedeiro. E cada novo capítulo significa uma nova manhã, uma nova vida para aprender a lidar, um novo corpo para cuidar. Acesso a lembranças de passados diferentes e planos de futuros que nunca poderá possuir ou planejar. Pois para “A”, o amanhã não existe. Não no sentido convencional. Não quando a palavra “incerto” adquire uma âncora de significado.



“O momento em que você se apaixona parece carregar séculos, gerações atrás de si – tudo isso se reorganizando para que essa interseção precisa e incomum possa acontecer. Em seu coração, em seus ossos, por mais bobo que saiba que é, você sente que tudo levou a isso, que todas as flechas secretas estavam apontando para este lugar, que o universo e o próprio tempo construíram isso muito tempo atrás, e agora você acaba de perceber que chegou ao local onde sempre deveria ter estado”.


Okay, espero ter conseguido retratar uma parte do que é ser o “A”. Ah sim, “A” não possui sexo definido, ele/ela apenas sabe que atualmente tem 16 anos e todos os corpos que habitará possuem a sua idade. Ou seja, quando ele tinha 5 anos, apenas se hospedava em crianças de 5 anos. “A” também não controla essa mudança de corpos. Ele/ela apenas sabe que à meia noite, queria ou não, irá para um ser humano diferente. Enquanto está dentro do corpo das pessoas, ele continua sendo quem é, e possui o livre arbítrio de seguir as ações costumeiras do hospedeiro ou ser quem quiser ser. (Ela/ela, enfim, vocês entenderam. Vou chamar de “ele” para facilitar a vida).



“Sinto que o universo está me dizendo alguma coisa. E não importa se é verdade ou não. O que importa é que eu sinto isso, e acredito”.

Certo, chega de apresentações. Desde o começo do livro, “A” deixa claro que é o que é, mesmo que ele próprio não saiba a resposta. Mas o autor soube nos situar bem sem termos que “pegar o ônibus andando”.



“Posso dizer que a tristeza voltou. E não é uma tristeza bonita; a tristeza bonita é um mito. A tristeza transforma as feições em argila, não em porcelana”.

No primeiro capítulo, “A” acorda no corpo de Justin, um garoto que não dá muita importância para nada, inclusive à sua namorada, Rhiannon. Depois algum tempo, “A” criou um “protocolo de regras” para não prejudicar seus hospedeiros, tentando agir exatamente como eles o fariam e sem se envolver com as pessoas ao redor, já que tudo aquilo só duraria 24h. Já que nunca possuiria uma identidade ou realidade para si. Mas perto de Rhiannon, por algum motivo, ele decidiu fugir de suas regras. Por um dia. Um dia que, ao final, ele desejou que nunca terminasse. Sim, alerta perigo.



“Já não acho que ela só esteja sendo gentil. Ela está sendo boa. O que é mais um sinal de caráter do que a mera gentileza. A bondade tem a ver com quem você é, enquanto a gentileza tem a ver com o modo como quer ser visto”.

Claro que no dia seguinte, “A” não era mais Justin. Nunca mais seria. Mas os momentos que passou com Rhiannon deixaram marcas. 
A necessidade de ser alguém era um desejo que ele achara ter superado.  De conquistar coisas por si só. De ter uma vida. Uma única vida. De ser a mesma pessoa mesmo depois da meia noite. (Perceberam que eu nem gosto de frases curtas? #ficaadica).

“Simples e complicado, como a maior parte das coisas verdadeiras”.

A cada dia, “A” quebra cada vez mais suas regras de não envolver os hóspedes em algo que não diz respeito às próprias vidas. Mas ele tinha que ver Rhiannon. Mesmo que Rhiannon não fizesse ideia que dentro de todos os corpos que conheceu, havia a existência peculiar de “A”. Como “A” conseguiria explicar qualquer coisa relacionada a ele para Rhiannon? E pior, que estava apaixonado?



“Apaixonar-se por alguém não significa que você saiba como a pessoa se sente. Significa apenas que você sabe como você se sente”.



Well well, sei que a trama já trouxe a tona “exclusividades YA”. Mas se eu consegui me esforçar para ver além disso, come on!, você também. Eu gostei da ideia central do autor. Ele foi inteligente de entrelaçar suas críticas sobre padrões da sociedade num livro de cenário destinado a adolescentes. Ao mesmo tempo que deixou uma impressão de estar limitando-se, mas enfim. Por “A” não possuir um sexo definido, o autor explora bastante sobre questões homofóbicas, tanto para o lado gay quanto para o lésbico, ao mesmo tempo em que ele não prioriza isso.  Ele não defende nenhum dos lados, não faz campanha contra ou a favor. Apenas mostra casais. 


“É somente nos pontos mais delicados que fica complicado e controverso, a incapacidade de perceber que, não importa qual seja nossa religião, sexo, raça, ou localização geográfica, todos nós temos cerca de 98% em comum com todos os outros. Sim, as diferenças entre homens e mulheres são biológicas, mas se você observa a biologia como uma mera questão de porcentagem, não há muita coisa diferente. A raça é diferente apenas como uma construção social, e não como uma diferente inerente. E quanto à religião, quer você acredite em Deus, Javé, Alá ou qualquer outra coisa, é provável que, em seu coração vocês queiram a mesma coisa. Por uma razão qualquer, nós nos concentramos nos 2% da diferença, e a maior parte dos conflitos que acontece no mundo é conseqüência disso”.

Claro que “A” às vezes estava em um corpo de alguém que namorava, e com isso temos a oportunidade de conhecer todos os tipos de casal. E o autor foi além. Ele mostra as personalidades das pessoas que os formavam, definido-as pelo que elas são e não pela opção sexual ou pelo preconceito que sofrem por isso. (Eu sou bem anti-romântica, não gosto de livros melosos que me façam sentir com diabetes literária. Mas a forma que o autor tratou de “assuntos de relacionamentos”, com simplicidade e sem alardes, não me cansaram. E isso é raro).


“Mas aposto que tem um monte de gente que passa a vida inteira sem dizer a verdade. E essas pessoas acordam no mesmo corpo e na mesma vida todas as manhãs”.

Acalma-se você que começou a pensar que o livro só trata “do sentimento entre duas pessoas”. Por sorte não, pois se não eu já teria vomitado e deixado claro que fiz isso. Os assuntos mostrados atrás da ótica de “A” são bem diversificados e posso dizer que expostos de maneira levemente neutra, pois ele não possui preconceitos em relação a nada. Ele já esteve em pessoas que preferem o silêncio. Pessoas que gostam de festas. Pessoas estudiosas. Pessoas ignorantes. Ele já sofreu bullying. Já esteve no corpo de valentões. Pessoas suicidas. Pessoas com problemas alimentares. ENFIM, toda uma nuança de opiniões, personalidades, traumas, experiências e diversificações. 



“Sei por experiência própria que, sob toda garota desimportante, existe uma verdade fundamental. Ela esconde a dela, mas ao mesmo tempo, quer que eu a veja”.

Ele nos mostra que de alguma forma, todos às vezes pensam as mesmas coisas, mas de maneiras diferentes. Todos possuem a mesma coletânea de sentimentos. Todos querem ser felizes e amados, mesmo que alguns gritem isso ao mundo e outros escondam e finjam que não. Todos sentem tristeza, todos têm dias difíceis. Todos se preocupam ou já se preocuparam com aparências ou opiniões alheias. Há apenas inúmeras maneiras de uma pessoa passar por isso, compartilhar, esquecer ou guardar as experiências que vive. (Okay, essa é a parte em que sinto que viajei demais e não lembro mais do que especificamente estava falando ou tentando chegar = "apenas sorriem e acenem, rapazes.")


“O som das palavras quando são ditas é sempre diferente do som que fazem ao serem ouvidas, porque o falante ouve parte do som do lado de dentro”.

O final do livro não foi uma surpresa para mim. Mas eu passei boa parte da história sentindo uma grande curiosidade sobre aonde tudo aquilo iria chegar. Não que tenha sido satisfatório, mas acho que foi um bom encerramento. E o fato de ser livro único mostra que devemos deixar como está e se quisermos, podemos acrescentar uma reticências na nossa mente.



“Ela está tentando sobreviver ao dia, e não é uma tarefa difícil”.

Como já devo ter mencionado, ou não :x, que a escrita do autor é ótima. Ele consegue literalmente PÔR sensações em palavras e pensamentos que você achava ser o único a tê-los em frases que resumem tudo de maneiras concisa e abrangente. Ele faz os personagens se desenvolverem de maneira natural e você sente o progresso. Espero ler mais Levithan, pois seu ritmo de escrita é tão sem adjetivos que eu esquecia que estava lendo um livro! Como eu li em formato de ebook, comentários sobre a diagramação estão dispensados.



“Raramente as pessoas são tão atraentes quanto são aos olhos das pessoas que as amam”.


Quatro A’s como nota! (Isso no boletim também é bem vindo). Mesmo não sendo O livro relação, foi bom passar um tempo com ele e aprender a cultivar as lições que ensina.




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